quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Miniconto - Alívio


Adorava desenhar sereias. Resolveu traçá-las. Não gostou. Exigente, amassou o papel e disse: nunca mais. Preocupei-me. Conversei. Os primeiros esboços são sempre assim, concluí. Não fui ouvida. Aos 6 anos, ela queria a perfeição. Por que não pegar outra folha e começar de novo? Talvez fosse pedir demais. Deixei-a sozinha. Queria dar-lhe um tempo. Testemunhei minutos de desengano.  Inconformada, resgatei a obra e aprimorei-a. Toques sutis transformaram o cenário. O mar agora era céu e nossa personagem não mais nadava, voava. Apresentei o novo. Pairou-se a dúvida. Aceitaria? Dedos cruzados, coração apertado. Percebi um sorriso.  Ainda em lágrimas, indícios de um encantamento. Finalmente, o abraço e a entrega. Tranquila, minha pequena artista acomodava-se. O alívio? Com certeza, temporário. Afinal de contas, sua busca por folhas a serem rabiscadas, estava apenas começando.

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