quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Indignadas, sim. E humanas, também.

 
                     E a resposta do outro lado da linha foi: “Mas do que a senhora está reclamando? No final não deu tudo certo?” Foi assim que uma amiga narrou indignada parte de seu diálogo com a enfermeira de uma cooperativa médica que grosseiramente tentava justificar o “final feliz” de uma negligência.
                      Imediatamente, o referido episódio, levou-me à seguinte reflexão: quantas vezes não somos levados a achar que se no final deu tudo certo não teve mal nenhum o perigo ou o risco que passamos, a contrariedade que tivemos ou o tempo que perdemos? Inúmeras vezes, suponho.
                      Justificar o descaso nas relações humanas, sob o argumento de que o importante são os fins e não os meios, é colaborar gloriosamente para o necrosamento social. Resultado positivo a qualquer custo, fora do mundo das planilhas, não dignifica ninguém, muito pelo contrário, só atrasa e oprime.
                      Lembro-me que durante a conversa, pensamos inclusive sobre a razoabilidade da nossa consternação. Afinal de contas, seria mesmo cabível alguém se indignar com o erro na entrega de um medicamento imprescindível para o tratamento de uma paciente de mais de 80 anos, recém saída de uma UTI? Ou seríamos nós, apenas duas mulheres indignadas demais, surtadas demais e sensíveis demais? Pairou-se a dúvida.
                      Recentemente, ouvi dizer que as pessoas podem perder tudo, salvo a capacidade de indignar-se. A indignação não deve ser confudida com a revolta ou reduzir-se a esta. Indignação é revolta com conteúdo, com motivo. Assim se você foi afrontado, injustiçado ou foi espectador de algum absurdo social, o sentimento pertinente é a indignação, sem direito a nenhuma crise de consciência posterior. Sorria, você é gente!
                      Na realidade, a indignação é a força motriz da humanidade. Uma sociedade que se indigna, não permite injustiças, abusos ou desmandos. Uma sociedade que se indigna é com certeza menos alienada e no mínimo mais solidária.
                      A vida não pode ser uma inacabada sucessão de descuidos cinicamente justificáveis e nem tudo pode ser aceito. Assim, descaso e menosprezo ao tratamento de uma idosa por parte de uma profissional da área de saúde, é motivo sim de indignação! Não somos mulheres loucas ou sensíveis demais, somos humanas!



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