Adorava desenhar sereias. Resolveu traçá-las. Não gostou.
Exigente, amassou o papel e disse: nunca mais.
Preocupei-me. Conversei. Os primeiros
esboços são sempre assim, concluí. Não fui ouvida. Aos 6 anos, ela queria a
perfeição. Por que não pegar outra folha e
começar de novo? Talvez fosse pedir demais. Deixei-a sozinha. Queria dar-lhe um
tempo. Testemunhei minutos de desengano. Inconformada, resgatei a obra e
aprimorei-a. Toques sutis transformaram o cenário. O mar agora era
céu e nossa personagem não mais nadava, voava. Apresentei o novo. Pairou-se a dúvida. Aceitaria?
Dedos cruzados, coração apertado. Percebi um sorriso. Ainda em lágrimas, indícios de um encantamento. Finalmente, o abraço e a
entrega. Tranquila, minha pequena artista acomodava-se. O alívio?
Com certeza, temporário. Afinal de contas, sua busca por folhas a serem
rabiscadas, estava apenas começando.
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Predicativos da alma
E tudo muda quando a gente segue o
nosso coração e se aceita. E não se engane, aceitar-se é sobretudo respeitar-se.
E respeito, é mais que do que consideração, é sem dúvida a habilidade de
enxergar e de perceber, não só a si, mas também aos outros e ir além, admitindo
suas reais inclinações, bem como seus limites e fraquezas. Afinal de contas,
quem se aceita, se percebe, se reconhece, se valoriza e, obviamente, faz o
caminho contrário, se avalia, se questiona, se observa e busca melhoras.
Até chegarmos à comunhão
desses fatores, o caminho é árduo. Infelizmente, aceitação e respeito nem sempre
andam juntos. Mas assim como comer, andar e falar; ações primeiras do corpo
físico, olhar para si
com delicadeza e compreensão é algo que se pode aprender.
Sejamos generosos e complacentes com a nossa
natureza. Ao contrário do que se pensa, não nascemos prontos e vamo-nos
gastando, consumindo ou esgotando. Como bem disse Cortella, o que ocorre
é exatamente o contrário, nascemos não-prontos, não-preenchidos e não- acabados; posto que é
ao longo do caminho que vamo-nos
fazendo. Então, mãos-à-obra!
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Já não vivo sem mim
Quando
estou fora, buscando o novo, fico pouco, logo volto, pois sinto falta do
meu aconchego, de estar comigo, das paredes da minha alma.
Se
pudesse me faria de novo, assim, exatamente assim, imperfeita, incorreta,
inexata. Aceito tudo em mim, todas as minhas dores, todas as minhas
dúvidas, todos os meus fracassos e principalmente o meu passado. Afinal de
contas, tudo foi pertinente, tudo foi cabível, tudo foi merecido. Não fui
vítima de nada, fui protagonista de tudo.
Me
perco e me acho, não necessariamente nessa ordem, mas sempre assim.
Ando por aí, sempre distraída, essa é a minha marca, o que me identifica.
E sinceramente, eu adoro. Sou sem peso, sem correntes e sem ranço. Sou
leve, sou brisa e sou pranto. E como sou...
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
Indignadas, sim. E humanas, também.
E
a resposta do outro lado da linha foi: “Mas do que a senhora está reclamando?
No final não deu tudo certo?” Foi assim que uma amiga narrou indignada parte de
seu diálogo com a enfermeira de uma cooperativa médica que grosseiramente tentava
justificar o “final feliz” de uma negligência.
Imediatamente,
o referido episódio, levou-me à seguinte reflexão: quantas vezes não somos
levados a achar que se no final deu tudo certo não teve mal nenhum o perigo ou
o risco que passamos, a contrariedade que tivemos ou o tempo que perdemos?
Inúmeras vezes, suponho.Justificar o descaso nas relações humanas, sob o argumento de que o importante são os fins e não os meios, é colaborar gloriosamente para o necrosamento social. Resultado positivo a qualquer custo, fora do mundo das planilhas, não dignifica ninguém, muito pelo contrário, só atrasa e oprime.
Lembro-me que durante a conversa, pensamos inclusive sobre a razoabilidade da nossa consternação. Afinal de contas, seria mesmo cabível alguém se indignar com o erro na entrega de um medicamento imprescindível para o tratamento de uma paciente de mais de 80 anos, recém saída de uma UTI? Ou seríamos nós, apenas duas mulheres indignadas demais, surtadas demais e sensíveis demais? Pairou-se a dúvida.
Recentemente, ouvi dizer que as pessoas podem perder tudo, salvo a capacidade de indignar-se. A indignação não deve ser confudida com a revolta ou reduzir-se a esta. Indignação é revolta com conteúdo, com motivo. Assim se você foi afrontado, injustiçado ou foi espectador de algum absurdo social, o sentimento pertinente é a indignação, sem direito a nenhuma crise de consciência posterior. Sorria, você é gente!
Na realidade, a indignação é a força motriz da humanidade. Uma sociedade que se indigna, não permite injustiças, abusos ou desmandos. Uma sociedade que se indigna é com certeza menos alienada e no mínimo mais solidária.
A vida não pode ser uma inacabada sucessão de descuidos cinicamente justificáveis e nem tudo pode ser aceito. Assim, descaso e menosprezo ao tratamento de uma idosa por parte de uma profissional da área de saúde, é motivo sim de indignação! Não somos mulheres loucas ou sensíveis demais, somos humanas!
Se...
Se fosse pra ser livre, seria pássaro
Se fosse pra sonhar, seria mar
Se fosse pra chorar, seria lá
Se fosse pra comer, seria grão
Se fosse pra gritar, seria não
Se fosse pra amar, seria mais
Se fosse pra viver, seria em mim
Se fosse pra curtir, seria aqui
Se fosse por você, seria amor
Se fosse por nós dois, seria dor
Se fosse só pra mim, seria seu
Se fosse muito bom, seria meu
Se fosse pra ser noite, seria lua
Se fosse pra ser água, seria chuva
Se fosse pra ser rosa, seria tua
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